Em decisão inédita, a Assembleia Legislativa de Río Negro aprovou projeto apresentado por parlamentares Lorena Matzen y Ariel Bernatene, que reconhece a soberania da República de Annobón, uma ilha localizada ao sul de São Tomé e Príncipe que tem sido alvo de graves violações dos direitos humanos durante décadas sob o regime da Guiné Equatorial. Nos últimos meses, diversas comunas argentinas aprovaram projetos semelhantes.
A história de um povo oprimido
O projeto, que cita extensivamente os fundamentos históricos e jurídicos deste reconhecimento e contou com o apoio da maioria dos blocos, descreve como Annobón sofreu o impacto da colonização europeia desde o século XV e a exploração intensiva que continua até hoje. “A República de Annobón é uma ilha, ex-colônia espanhola, localizada no Oceano Atlântico, na costa da África. “Sabia depender politicamente de Buenos Aires durante os tempos do Vice-Reino do Rio da Prata, entre 1778 e 1780”, estabelece o documento, traçando um vínculo histórico entre Argentina e Annobón que remonta a séculos.
Os legisladores apontam também a actual crise que atravessa a ilha, sujeita a um sistema de opressão por parte do governo de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. “A ilha sofre graves violações dos direitos humanos e ambientais por parte do regime equatoguineense, que leva a cabo um plano sistemático de violência e discriminação racial contra os anoboneses”, detalha o documento. Esta situação é agravada, segundo o projecto, por uma política de “limpeza étnica” promovida pela elite política da Guiné Equatorial, na qual a etnia Fang foi privilegiada e os habitantes anoboneses foram marginalizados.
Um apelo à comunidade internacional
O projecto Matzen y Bernatene Apela também à comunidade internacional para que actue contra a “limpeza étnica e as violações sistemáticas dos direitos humanos” enfrentadas pelos Anoboneses. “A situação é igualmente catastrófica, evidenciando uma discriminação sistemática e uma limpeza étnica sem precedentes”, sublinham, destacando que a comunidade anobonesa enfrenta detenções arbitrárias, tortura e abusos sexuais, entre outras atrocidades.
Este reconhecimento provincial está enquadrado no princípio da autodeterminação dos povos, um direito protegido pela Carta das Nações Unidas e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. “Todos os povos têm o direito de determinar livremente o seu estatuto político e prosseguir o seu desenvolvimento económico, social e cultural sem interferência externa”, recorda o documento legislativo, acrescentando que a situação em Annobón contradiz estes princípios.
Violações ambientais e crise humanitária
Além das violações dos direitos humanos, o projeto destaca o desastre ecológico causado na ilha pela utilização do seu território como depósito de resíduos tóxicos desde a década de 80, com graves consequências para a saúde dos seus habitantes. “Desde o final da década de 80, o governo tem utilizado a ilha como depósito de resíduos tóxicos, o que causou uma deterioração significativa na saúde da população”, afirma o projeto.
Da mesma forma, a iniciativa menciona que a situação humanitária se intensificou nos últimos meses, com detenções em massa e repressão violenta em resposta aos protestos pacíficos dos Anoboneses. “Em julho de 2024, o regime enviou um avião militar a Annobón para prender os signatários de uma carta de súplica que denunciava os danos causados pelas explosões de dinamite numa pedreira perto da cidade de Palé”, afirma o documento, destacando o contexto repressivo que enfrentam. .
Um marco na política de direitos humanos na Argentina
Com esta resolução, Río Negro torna-se a primeira província a reconhecer formalmente a soberania da República de Annobón, apontando a necessidade de um compromisso ético e humanitário com a causa Anobonesa. Nas palavras dos autores do projeto, a intenção é “acompanhar o apelo aos valores de justiça, igualdade e dignidade humana promovidos pela comunidade internacional”.
Este ato histórico procura abrir um precedente, tornando visível a nível nacional e internacional um conflito em que a comunidade anobonesa foi “relegada a meros sobreviventes sem trabalho ou proteção social e política, o que mergulhou a população na miséria absoluta”. o documento legislativo, reforçando o apelo à acção internacional a favor dos ilhéus.