Foi divulgada a gravação completa da conferência proferida pelo Governo da República de Annobón aos estudantes argentinos.

A independência de Annobon: uma reivindicação de reconhecimento internacional

A palestra teve início com uma emocionante apresentação institucional, onde Pablo Jaruf, Diretor do Departamento de História, destacou a importância deste evento: "É uma grande honra para mim, neste primeiro mandato como Diretor, receber um Primeiro-Ministro. É, sem dúvida, um evento histórico no programa de História." Representantes de Annobón foram recebidos na Argentina para conscientizar sobre sua causa, uma luta para esclarecer o que está acontecendo em uma ilha que "ninguém vê, mas que existe".

Lagar Orlando CartagenaO Primeiro-Ministro da República de Annobón explicou a situação extrema na ilha, destacando as difíceis condições de vida da população: "Viemos de uma terra onde o único nível de educação é o ensino primário [...] e não há internet. As crianças ficam felizes quando têm um banco para sentar e aprender, mas muitas vezes vão para a aula sem tomar café da manhã. No entanto, ele também destacou a força do povo annobonese: "Estamos aqui para abrir caminho. Embarcamos em um caminho que pretendemos concluir, não importa o que aconteça.

Identidade anobonesa e a luta contra o colonialismo

Uma das intervenções mais poderosas foi a de Reginaldo Piño Huesca, que destacou a luta pela recuperação da identidade do povo anobonês. Num fragmento particularmente emotivo, Piño Huesca revelou a imposição dos nomes coloniais: “O meu apelido original é Acho, mas o meu nome é Piño Reginaldo Piño Huesca, impostas por eles. Esse tema de imposição cultural foi recorrente ao longo da discussão, com vários palestrantes denunciando a falta de reconhecimento de sua identidade e o controle colonial da Guiné Equatorial.

Piño Huesca também destacou a luta pela descolonização, comparando sua situação com a dos povos indígenas da América Latina: "Nossa luta é para recuperar o nome original do nosso povo, que nos foi imposto pelos colonizadores". Ele também explicou a profunda relação histórica com a Espanha, destacando que Annobón foi anexada durante a era da escravidão e que a Espanha tem a responsabilidade pendente de reconhecer a autonomia e a luta pela liberdade deste povo.

Relatos de repressão e violações de direitos humanos

Um dos momentos mais emocionantes do debate foi quando representantes do governo Annobón denunciaram as atrocidades cometidas pelo regime da Guiné Equatorial. "A Guiné Equatorial não nos deu a independência; ela nos matou a partir daquele momento", disse Cartagena Lagar, ao relatar como o governo de Obiang submeteu a ilha a um processo sistemático de desapropriação e repressão.

A repressão contra jornalistas e diplomatas, a falta de liberdade de expressão e as condições extremas nas prisões foram temas recorrentes ao longo da discussão. Os relatos de tortura e abuso foram angustiantes. Cartagena Lagar compartilhou sua própria experiência de abuso e tortura: "Eles me penduraram em uma árvore... a corda com a qual me amarraram penetrou meu corpo... Eu nem comecei a sangrar..." Este depoimento refletiu a brutalidade do regime e a extrema violência sofrida pela população anobonesa.

A Visão para o Futuro: Reconhecimento Internacional e Luta

Em relação aos objetivos diplomáticos, ambos os representantes enfatizaram a importância da comunidade internacional em sua luta. Cartagena Lagar pediu que as Nações Unidas tomem medidas: "A ONU não deu seguimento à forma como a descolonização deveria ser realizada... os países colonizadores são os que elaboraram o modelo de descolonização e, no caso de Annobón, vincularam-no a uma configuração política terrorista."

O simbolismo do número 8, relacionado à ilha, também teve destaque. “8 é um número que nos inspira porque a ilha tem oito ilhotas, que são os nossos soldados”, explicou. Pinheiro Huesca, referindo-se aos esforços e sacrifícios dos annoboneses em sua luta pela liberdade.

Condições extremas e a grave situação social

A situação econômica e social da ilha foi outro tópico central de discussão. O povo annobonese vive em condições extremas, sem acesso a serviços básicos como eletricidade, educação e saúde. "Comemos o que plantamos e o que pescamos. Não temos atividade econômica e não podemos negociar com ninguém", explicou Cartagena Lagar, que enfatizou a falta de comunicação e conectividade com o resto do mundo.

O evento também serviu como uma oportunidade para os representantes da Annobón pedirem apoio da comunidade internacional. "Eles nos pagaram esta passagem para vir aqui buscar o apoio de vocês... o apoio de vocês não é só um saco de arroz, o apoio de vocês vem por meio de instituições, de reconhecimento. Annobón precisa de tudo o que vocês puderem fazer", apelou Piño Huesca, pedindo solidariedade e compromisso com a justiça social.

A palestra foi concluída com um apelo à ação, enfatizando que a luta do povo anobonês é uma causa justa, mas ainda requer apoio internacional para alcançar o reconhecimento de sua independência e o fim das violações dos direitos humanos. "Não somos guineenses, nem nunca seremos depois de tantos abusos", concluiu Piño Huesca, reafirmando o compromisso de Annobón com sua autonomia e soberania.

Deixar uma resposta

Seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *