Acadêmicos alemães e argentinos debateram a conversão de Annobón em depósito de lixo nuclear

No dia 1º de junho, a Universidade Nacional de La Plata organizou uma conferência intitulada “Annobón 1988 – Argentina 2022: Desastres lentos e sua colonialidade”, como parte do seminário “Desastres lentos e violência ambiental”. Esta reunião académica destacou a interligação dos desastres ambientais em diversas regiões do mundo, sublinhando as profundas estruturas de desigualdade e colonialidade persistentes no sul global.

A doutora Cecil Steenbergen, da Universidade de Wuppertal, Alemanha, abriu a conferência relembrando eventos catastróficos em Leverkusen e Bata em 2021. Steenbergen Mencionou também o desastre ambiental ocorrido em Annobón em 1988, onde foi aprovado um acordo para depositar na ilha resíduos tóxicos provenientes da Europa. O historiador destacou como o colonialismo continua a influenciar a modernidade e como as mobilizações contra os resíduos tóxicos em Annobón levaram a novas leis de proteção ambiental na Europa.

Maria José Luís, doutorando em Ciências Sociais, também participou, com foco em conflitos ambientais e ecoativismo na América Latina. A conferência destacou como a resistência organizada por políticos e intelectuais africanos restringiu a importação de materiais perigosos, reflectindo a necessidade de abordar os desastres ambientais como fenómenos interligados.

A complexa dinâmica das verdades tóxicas em Annobón

Numa análise aprofundada da violência tóxica e da injustiça histórica, foi enfatizada a necessidade de uma epistemologia de verdades tóxicas. Esta abordagem estuda a política da ignorância e as táticas utilizadas para destacar a violência tóxica através das artes e da literatura.

Testemunhas oculares em Annobón, no final da década de 80 e início da década de 90, observaram mudanças dramáticas na fauna e na flora da ilha, bem como a deterioração da saúde dos habitantes. Estas alterações foram atribuídas a depósitos de resíduos tóxicos, agravando a situação crítica da ilha sob o regime de Obiang.

O colonialismo e o capitalismo ampliaram a precariedade em Annobón. A exploração da ilha na década de 80 por empresas estrangeiras foi facilitada pelo seu isolamento histórico. Testemunhos de resiliência e sofrimento do povo anoboneso destacam uma história de resistência face à violência estrutural e tóxica.

A solidariedade e uma perspectiva decolonial nos estudos ambientais são cruciais para compreender como a violência contra os seres humanos e o meio ambiente estão interligadas. 

A conferência e os debates reflectem uma luta contínua pela justiça ambiental e social, exigindo voz e transparência nos interesses das comunidades afectadas.

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